“A música é uma ferramenta de conquista”, diz Nando Reis
Em “Sei”, seu mais recente trabalho, compositor fala sobre amor, casamento e reconciliação. Em entrevista a Marie Claire, ele revela seus medos e seus desejos
O CANTOR E COMPOSITOR LANÇA SEU NOVO DISCO, “SEI”, TOTALMENTE INDEPENDENTE
Eram cinco da tarde de um dia de semana. Há poucos metros do estádio do Pacaembu, uma casa de pé direito bem alto, cheia de árvores e sons de passarinho. Foi sentado em sua casa “de campo” – como ele a chama – que Nando Reis recebeu Marie Claire para um bate-papo exclusivo. Entre os temas, além de “Sei”, seu novo CD recém-saído do forno, amor, casamento e reconciliação.
Em um novo ciclo da carreira, Nando assumiu também o trabalho de distribuição e venda do novo disco, que está disponível em seu site e o valor é definido, semana a semana, de acordo com a precificação dos internautas. “Jamais poderia fazer essa venda através da precificação dentro de uma gravadora”, afirma.
Conhecedor da alma feminina – “gosto dos ‘postos’ que ocupo no imaginário das pessoas”, brinca -, Nando Reis conta que este novo trabalho é dedicado a Vânia, com quem foi casado durante 20 anos, teve quatro de seus cinco filhos, ficou separado durante dez e agora voltou a namorá-la. Uma das principais canções do disco é “Back in Vânia”. Sua personalidade conciliadora consegue juntar Vânia e Nani, mãe de seu outro filho, Ismael, no Natal e fazer com que sua ex-namorada Marisa Monte participe de seu novo CD. Quer saber como? Ele conta isso e outros detalhes sobre sua vida e carreira na entrevista abaixo.
Sua música embala romances e “Sei” está na trilha da novela “Lado a Lado”. Você acha que se transformou em um compositor romântico? Era seu objetivo?
Nando Reis – Não sei se me transformei, mas não tenho nenhum outro objetivo a não ser ter uma relação vital com a música. É onde tenho para me entender, me expressar, me sentir produtivo. O lugar que ocupo é o meu, com as minhas características na forma de escrever letras, de fazer melodias, com a voz e a banda que tenho.
As mulheres se identificam muito com suas letras. Será que é porque a maioria de suas músicas você escreveu para as mulheres da sua vida?
Nando Reis – É provável que sim, mas isso não posso responder (risos). Já ouvi muitas mulheres falarem isso, mas não acho que seja tanto assim. Talvez elas se identifiquem ou se coloquem nesta situação porque é a maioria das músicas que fiz foi para elas. Mas é muito comum homens falarem que também conto a história deles. Acho engraçado e até charmoso essa coisa de que sei da alma das mulheres. Gosto deste lugar, mas não que eu tenha chegado a ele conscientemente ou que o ocupe.
O DISCO É DEDICADO A VÂNIA, COM QUEM FOI CASADO HÁ VINTE ANOS, FICOU SEPARADO DURANTE DEZ, E VOLTOU AGORA A NAMORAR
A música é uma forma de conquistar?
Nando Reis – A música é uma ferramenta de conquista para mim do ponto de vista da minha vida pessoal. É um veículo de expressão do que sinto e do que pretendo expressar a respeito das relações pessoais. Às vezes, é a melhor maneira de dizer o que sinto. Talvez seja apenas um modo de seduzir e de conquista, mas não sei se é tão eficiente porque uma coisa é o que você diz e, outra, o que faz. A gente conquista muito mais fazendo do que dizendo.
Você está mais intimista por causa desta fase da sua vida em que está voltando a um relacionamento antigo com Vânia, sua mulher por 20 anos?
Nando Reis – Dedico o disco a ela e escrevi três músicas sobre nós dois. Não sei se isso me faz mais intimista. Sempre fui voltado para o meu íntimo, no melhor ou pior aspecto: tanto de tentar ver quem sou, como de olhar mais para mim. Por mais que o cara escreva uma música sobre outra história, aquilo revela também quem ele é. Essa peculiaridade da informação difere a arte do objeto de consumo. Só posso falar sobre minhas experiências, mas estou dizendo que aquilo é uma forma de representar todos os indivíduos. Que intimidade é essa que é de todos?
Qual o segredo para retomar um casamento após dez anos separado?
Nando Reis – Não tem segredo, cada história é uma, e a minha com a Vânia é linda. Como toda história de um casal, é cheia de altos e baixos, dificuldades e incompatibilidades. Conheço a Vânia há 35 anos e, neste tempo, passei poucos dias sem falar com ela porque nos tornamos muito amigos, casados ou separados. Sempre cuidamos de nossos filhos juntos. Não tem segredo. Até porque não sei quanto tempo isso… só sei que está ótimo.
Você é conciliador. Como conciliar todas as mulheres da sua vida?
Nando Reis – A primeira coisa é que as pessoas sãs sabem que ninguém ocupa o lugar do outro. A Vânia tem o lugar dela, a Marisa (Monte) e a Nani, mãe do Ismael, também. Eles são dinâmicos, mas são conquistados e estabelecidos. A Marisa, que já foi minha namorada, é minha parceira e uma pessoa importantíssima na minha vida. Ela está cantando no meu disco e, para mim, isso tem um significado importantíssimo. Acredito que para a Marisa também. Isso não concorre com a Vânia, mãe dos meus quatro filhos, ou da Nani. Nenhuma delas ocorreria essa tolice.
Os momentos de crise, como a perda de um romance, por exemplo, são combustível para o processo criativo ficar mais fácil?
Nando Reis – Não sei se exatamente a crise, mas sim a questão do não contentamento com o que se está vivendo. Tem o desejo de busca, que parte da idealização, e o de reformulação, que parte da observação da realidade. As duas coisas atuam da mesma forma. Minha música fala mais do que gostaria de ser do que realmente sou. Sou forçado a pensar nisso. Talvez eu não seja o melhor analista das minhas músicas. (risos)
Você teme que uma música não seja um sucesso?
Nando Reis – Não, estou cagando para isso. A idéia do que dá certo ou não é estranha. Claro que é uma delícia quando uma música dá certo. É um grande empurrão para as coisas que gosto de fazer, como gravar discos, fazer shows e ver as pessoas cantando. Só que isso é uma consequência. Se eu olhar para trás, todas as músicas que fiz e deram certo foram feitas de forma idêntica as que não deram. Para isso, foi preciso fazer todas. Não manipulo porque não é o que busco. Tenho medo de não conseguir compor no tipo de padrão que estabeleci para o meu próprio trabalho. Não faço música como amarro o sapato. Amarrar sapato tem uma função muito simples e fazer música não é uma atividade objetiva e prática.
O que falta para você?
Nando Reis – Me falta tanta coisa. Olhar menos para mim porque sou um pouco distraído, quase um pouco negligente, com certas pessoas que estão muito perto de mim. Mas, por outro lado, não posso falar que me falte algo porque tudo o que eu tenho é suficientemente rico. Falta concentração para aproveitar tudo o que não me falta.
Você mora sozinho nesta casa enorme. E a solidão?
Nando Reis – Meus filhos sempre estão aqui. Eu e a Vânia moramos em casas separadas. A gente brinca que esta é a de campo e, a dela, da cidade. Não necessariamente precisa estar todo mundo junto, essa coisa de casal tradicional. Não é tão estranho estar sozinho, não sinto solidão. Preciso e gosto de ficar sozinho, só consigo trabalhar assim. As condições para que eu trabalhe, às vezes, são desagradáveis para quem está do lado.
Marie Claire Online – Quais são as suas apostas de 2013?
Nando Reis – Não faço. Tenho escutado exaustivamente Novos Baianos Futebol Clube e “Refavela”, do Gil. É o que ouço desde os 15 anos e são essenciais. Tenho mais interesse pela sonoridade do que foi produzido com abundância nos anos 70 do que o que é produzido hoje.
O que você espera de 2013?
Nando Reis – Estou começando a turnê do novo disco. Estou muito feliz com a nova formação das pessoas com as quais estou trabalhando, meus amados e importantíssimos Infernais. Também estou sentindo que meu time vai ser campeão em 2013. (risos) Estou feliz com tudo que aconteceu em 2012. Acho que esse foi o melhor disco que fiz na minha carreira.
A QUEM DEDICOU O NOVO CD
Isso porque ele foi fruto de seus 50 anos e da maturidade?
Nando Reis – Acho que sim. Claro que a gente pretende que o último disco seja o melhor, porque é o que de mais atual você fez, mas, por outro lado, sei que alguns discos são especiais. A gente sabe disso quando está fazendo e esse foi um deles, assim como o “Com você meu mundo ficaria completo…”, da Cássia Eller.
A Cássia era uma grande parceira e foi uma perda muito grande para você. Esse foi um momento de repensar coisas?
Nando Reis – A perda do Marcelo e da Cássia, logo em seguida, foi um chacoalhão tão grande que me desliguei dos Titãs quase imediatamente. Fiquei desesperado com a ideia de que a gente pode morrer rapidamente e tinha o desejo de fazer alguma coisa. Tentava, inutilmente, compatibilizar com os Titãs. Era uma estupidez minha e quase uma falta de coragem de fazer a opção. No momento em que percebi que uma hora você morre, fiquei assustado e me vi obrigado a tomar uma decisão para não passar a vida arrependido. Essas coisas dão um medo danado.
Você tem medo da morte?
Nando Reis – Ah, eu tenho. Não queria morrer agora. Sei que um dia vou morrer. Às vezes até acho que vivo de uma maneira perigosa, mas tenho medo, sim. Não acredito em vida após a morte, me basta como vida isso que chamo de vida. Sobre o resto, não sei o que é, não tem nome para mim e não existe. Gosto apenas das coisas que existem.
Equipe Walker Cabeleireiros